domingo, 25 de janeiro de 2009

É o Fórum... e isso dá em alguma coisa? (Parte 2)


Olá a todos!

Seguindo ainda com a temática Fórum Social Mundial, vou mostrar e comentar outro trecho da reportagem de O Liberal de Domingo, dia 25/01/08, caderno Atualidades, pag. 17.

“Alberto Pessoa de Lima, contador e supervisor de vendas de uma multinacional, assegura que o Fórum não vai mudar em nada a cidade. ‘O único benefício é que Belém vai aparecer um pouco mais’ [...] ‘Vamos mostrar uma Belém em uma semana totalmente diferente das outras. Acaba sendo um falso moralismo, porque depois que acaba o evento, tudo volta ao normal. Os policiais somem, os assaltos voltam, aumenta o desemprego.’

Apesar de achar importante existir um espaço para a exposição de idéias, Alberto afirma que a resolução dos problemas que serão discutidos não dependem do Fórum. 'Os problemas estão aí para todos verem. Não precisamos de gente em um Fórum para discutir problema, e sim de gente resolvendo os problemas'[...]

'As pessoas que querem proibir os desmatamentos são as mesmas que já 'desmataram' suas terras, se desenvolveram e agora querem dar uma de 'bonzinhos'. Os Estados Unidos querem proteger a Amazônia e dizem que ela é do mundo, mas não dividem o petróleo nem o poderio militar. Assim como os japoneses, que não dividem o conhecimento científico', censura.

Juliana Alves, executiva de vendas de uma agência de turismo em Belém, também não encara o Fórum Social Mundial de forma muito positiva. Desde que ficou sabendo do evento, ela começou a pesquisar os temas discutidos nas edições anteriores, mas decidiu não participar.'Acho que não é valido se reunir para não resolver nada. Criticar é muito fácil, diferentemente, de contribuir na prática com a mudança. O Fórum tem uma visão muito romântica', opina."

Quero apontar dois pontos de vista quanto às declarações acima: o primeiro, refere-se à esperteza e por que não dizer metodologia de ação dos nossos amigos gringos. Os socialistas presentes em Belém, já cuspiram, espreguejaram e até já queimaram a bandeira do EUA e certamente não vêm com bons olhos esta nação, mesmo depois da posse do cara-de-gente-fina Obama. Agora, seja com o nome de Greenpeace, que se diz canadense (e que nós sabemos que qualquer empresa mundial hoje possui capital e interesses transnacionais, e que não seria difícil ter algum dinheirinho americano aí pelo meio), seja por WWF e outras ONG's que não são de todo o mal, exceto quando interferem nos assuntos que dizem respeito ao desenvolvimento da nossa paupérrima região, notamos que mesmo com as inúmeras mazelas sociais e ambentais vividas no Nordeste e no Centro-Oeste do país o número de ONG's presentes nessas áreas é um pouco maior que a quantidade de dedos que temos na mão, enquanto que aqui, na zona verdinha (mato e árvores), amarelinha (ouro), cinzinha (inúmeros metais) e outras cores que reprensentem nossa biodiversidade estratégica para o desenvolvimento de cosméticos, remédios, novos materiais,etc, ultrapassam e muito a quantidade de dedos que temos no corpo todo!

É um discurso nacionalista sim! Não se assustem com isso. Queremos e muito nos relacionar, até mesmo o gringos que quiserem sentir o "calor"do nosso povo (em especial a nossa "pova") serão muito bem recebidos, todavia, não podemos nem seremos mais ameríndios estupefatos com espelhos e outros objetos, transcritos hoje em atitudes pseudo-amistosas e anti-democráticas, como por exemplo o travamento do desenvolvimento de culturas como a dos índios e dos moradores da floresta, que não deixarão de ser o que são se souberem navegar na internet, publicarem em seus blogs suas aflições e opiniões, frequentarem lojas de departamentos que estejam oferencendo aquele sapato que cobina certinho com aquela bermuda que eles já usam, e por aí vai. Cultura não é sinônimo de prisão.

Renegar o capitalismo, discordando um pouco do entrevistado, não é mais, pelo menos creio que não exista mais nenhum apagado ou alienado que pense assim, a luta dos movimentos sociais e socialistas. Nesta própria edição a qual eu retirei o excerto, tem uma reportagem sobre Davos e sua luta para freiar a ganância do capitalismo financeiro que é sem dúvida a causadora dessa crise que vivemos, o que mostra que tanto vermelhos, quanto azuis, já perceberam que "nem tanto ao mar nem tanto à terra, e sim pela praia que é bem melhor", como dizia um velho ditado.

Eu costumo brincar que, assim como muitas crianças que nascem em condições precárias ou em famílias detentoras de valores exclusivamente materiais, o Design é um filho do capitalismo. Pois, a própria Indústria, que seria mais como uma irmã mais velha, repassou as primeiras lições e ensinou como se portar nesse mundo-cão. Contudo, o Capitalismo, foi quem motivou e impulsionou a prática do Design, mostrando, nos primórdios e ainda hoje, mesmo já havendo outros objetivos, como o ele era um ingrediente essencial para a obtenção cada vez maior do Lucro. Seria realmente uma contradição renegarmos nossa origem. Ué, Seria?

Claro que não! Não precisamos seguir as carreiras de nossos pais, muito menos suas condutas e crenças, caso essas sejam questionáveis, conforme nosso aprimoramento intelectual e moral for se desenvolvendo. Aí se encaixa meu segundo ponto de vista. Discutir, Planejar, Fazer barulho, Manifestar-se são atitudes iniciais essenciais para um processo de mudança que só ocorre com a AÇÃO. Esta, por sua vez, para nós designers, traduz-se pela própria discussão quanto aos valores que estamos interessados difundir, defender e implementar com nossos projetos e posturas, perante a sociedade, o mercado e o mundo; tais discussões não podem, no entanto, se perderem no vento, ou em papéis soltos por aí. Devem compor artigos científicos, de periódicos como jornais e revistas, ser trabalhados em sala de aula na formação de cabeças pensantes, críticas e inspiradas.

É bem verdade que a AÇÃO, como a própria etimologia da palavra sugere, é representada, lógicamente, na prática da profissão, no desenvolvimento de projetos, em que possamos aplicar conceitos sustentáveis, buscar atingir a esfera social beneficiando não só materialmente uma comunidade, mas conceitualmente, repassando idéias, conhecimento e experiências.

Mesmo deslocado quanto ao Fórum Social Mundial, me sinto feliz em ver que eventos como esse chegam a nossa cidade e que nós, designers pensantes, podemos refletir e incidir em nossas esferas de atuação, escola, trabalho, família, etc, implementando novas formas de se construir esse mundo que possui um tijolinho nosso, mesmo que muitas vezes nem percebamos a nossa mão com um pouquinho de cimento, proveniente desta obra diária, isto é, Fazer o Design que você acredita e que o mundo credite, é somente assim que poderemos chegar de noite em nossos lares e encostar a cabeça no travesseiro prontos para relaxar, crentes de que cumprimos nossa missão.

Até a próxima. Tchau.





2 comentários:

  1. Dizer que o design é filho do capitalismo não está certo. Talvez mais correto seria dizer que ele é um subprotudo a tal coisa, quase como uma reação ao que estava sendo apresentado na época. É errado dizer que o design visa o lucro, quando na verdade o que o design propoe é a geração de valor e a criação de identidade entre um objeto e uma pessoa, porque se o design fosse exclusivo do modelo capitalista, onde estariam alocados os produtos russos, por exemplo? As armas russas, por exemplo estão até hoje entre as melhores do mundo, sendo que a AK-47 é a preferida do Ozama jusamente por ser barata e fácil de utilização. E o construtivismo russo que serviu de modelo pra BAUHAUS e foi quem realmente fez o filho e deu o nome de design? Por sinal, a Bauhaus foi fechada pelos Nazistas por ser considerada comunista, já que muitos artistas russos faziam parte de aquilo tudo. Pensar dessa forma é reduzir muito a capacidade do design o que não deve ser feito de jeito nenhum. O poder transformador e desenvolvimentista do design em todos os sentidos é muito grande e deve ser utilizado com bastante responsabilidade. Se um capitalista quer se utilizar do design pra obter lucro, isso já é outra coisa.

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  2. Bem, se você considerar que no movimento arts and crafts, na Inglaterra, Ruskin e Morris tentaram implementar essa visão e serviram de semente para o que foi a Bauhaus e essa, por sua vez, semeou muito do que é o Design hoje e sempre, eu pergunto-lhe: será que dedicar horas e talento para o aperfeiçoameno de produtos, como o tal AK-47 não é uma atitude capitalista?
    Antes de tudo deixo bem claro que sou defensor voraz do capitalismo, pois somente ele reflete a verdadeira alma da humanidade, não é ele que é imperfeito, advinha quem é, ou quem são?
    Implementar melhorias, como o construtivismo fez, desenvolver produtos como o Fuzil mais vendido e conhecido do mundo, instalar e conduzir uma escola, que anos mais tarde seria um verdadeiro divisor de águas para o mundo do Design, não são atitudes ou ações que levantem a bandeira de um sistema político, muito menos de uma ideologia. Dizer que "otimizar" os produtos, frutos do artesanato de uma comunidade indígena, por exemplo, "é a geração de valor e a criação de identidade entre um objeto e uma pessoa" apenas, e desconsiderar que há sim uma ação que por mais indireta que seja vise alguma espécie de lucro, além de piegas é antiquado.
    Demonizar o lucro renegando-o, foi tão mortal para a URSS, CUBA e outros que somente pensaram mas não implementaram esse tão famoso e sonhado socialismo, que chego a me surpreender ao ler que o Design é uma ferramenta "livre" de pensamentos e fundamentos capitalistas. Não é, é não será enquanto você estiver, por exemplo, lendo este post no seu computador se valendo de uma invenção puramente nativa da nação que mais pregou o capitalismo durante a guerra fria: a internet. Se você sabe alguma coisa de Corel Draw foi por que alguém se propôs a melhorar a forma de trabalho dos profissionais que lidam com as artes gráficas, e consequentemente eles não "dividiram" isso com todos, patentearam, aperfeiçoaram e venderam, e venderam muito até chegar a você, que eu aposto 10 contos, não deve ter pago um centavo pelo uso legal desse programa! E mesmo assim ainda há lucro na história, nem que seja para você!
    Não basta a intenção. Esta é causa, os efeitos devem ser analisados e considerados. Mesmo tendo por base modelos totalmente falidos e deturpados do socialismo, o famoso socialismo real, eu pergunto: Haveria estimulantes maiores, hoje, para o desenvolvimento de novos produtos, aperfeiçoamento de serviços, melhoria de processos, investimentos em pesquisas, dentre outras práticas trabalhadas no Design, que o acúmulo de capital, estabelecimento de um status social e diferenciação de classe social que somente o capitalismo oferece?
    Mesmo o planeta, no estado que está, desperta, em uma minoria, uma afinidade com o pensamento socialista; contudo, em que, rapidamente, se converteu o cenário político-econômico mundial? Produtos eco-sustentáveis, certificações ambientais que garantam a sua preservação, mas aumentem o valor da marca da organização, gerando o que mais? Ele mesmo... E ele volta de novo nos produtos biodegradáveis, orgânicos, da filosofia slow, dentre outros, que se mostram verdadeiros ninchos de mercado e que alcançam Ele mais uma vez. Ele quem? O LUCRO!
    Você pode renegá-lo, chutá-lo, fingir que ele não está lá. Mas é difícil não enxergá-lo como uma etapa necessária a essa evolução que não será mais forçada como em 1917 foi na URSS; e essa evolução tem sim a presença do Design e designers, que também não podemos negar, só surgiram para melhorar a forma como as indústrias e as organizações alcançavam Ele! Pode não ser mais assim (Será mesmo?), mas o que eu disse foi que o Design era filho, direto, comprovado, registrado, do capitalismo e não escravo! Será que um filho de traficante está condenado a seguir a carreira do pai e seus passos vacilantes? Será que não temos a chance de MUDAR o que foi iniciado?
    Aí, isso já é outra história... Não cabe a nós renegar a nossa.

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