quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Designers não são decoradores



Olá a todos, desculpem a demora, mas estou de volta para falar sobre o Briefing e suas implicações. Desta vez vamos ler um trecho em que Phillips explica melhor o título deste post.
“[...] muitas empresas consideram o Design apenas como elemento decorativo. Eles não consideram o Design como assunto estratégico. As decisões estratégicas são tomadas em outros setores, reservando-se, ao Design, apenas o desenho final do produto.[...]”
Sabe, é muito bom ver que em países desenvolvidos como a própria terra de Obama, encontramos algumas dificuldades como aqui na Lula’s Land (eh eh eh eh). No entanto, em Belém, caso tivéssemos a oportunidade de desenvolver um produto (o que já seria de extrema importância e visão do empresário chamar um grupo, ou pelo menos, um profissional de Design para fazer isso) seria o correto recusar ou impor uma metodologia, só pelo fato de estarem explorando nossas habilidades artísticas? Será que “embelezar” um balcão de atendimento, por exemplo, estando o projeto, os materiais, os acabamentos todos definidos, pode ser considerado uma “prostituição profissional” maior que fazer uma vulga “logomarca” por R$ 50, 100, ou 150 reais?
Semana passada eu li um artigo, Atirando no pé do design nacional. Pergunte-me como! do designer e professor Bruno Porto, em que o mesmo apresentava uma situação em que estudantes tinham participado de um concurso junto com profissionais, o que abriu brecha para ele questionar a atuação precoce de estudantes de Design no mercado incipiente brasileiro (ao meu ver, muito mais pela falta de organização do que pela ausência de profissionais).
Bem, Phillips defende que não sejamos apenas embelezadores de produtos (opinião consonante a minha), o que dificilmente será afastado de nossa profissão, já que é uma exigência inerente ao título de designer: gerar algo agradável esteticamente, caso contrário, dificilmente não se ouvirá o resmungo: “Caramba! E ainda foi um designer que fez isso?” Por outro lado, Porto questiona o fato de estudantes de design provocarem uma concorrência desleal com os profissionais, já que os primeiros trabalham muito mais pela experiência que adquirirão do que pelas contas que devem pagar. Já Netto, isso mesmo eu, pergunto: O que faremos então pessoal? Se não podemos embelezar quando profissionais e não é 100% louvável atuarmos enquanto estudantes, como ser politicamente, ou melhor, profissionalmente correto?
Se fizermos uma comparação inter-profissional eu posso citar que conheço um estudante de medicina que no 5o ano assumia um plantão de um hospital munido do carimbo do médico responsável, que a essas horas estava em sua casa dormindo. Arquitetos desenham suas construções e repassam um trabalho bem maçante para estudantes estagiários e até mesmos recém formados desenvolverem no CAD. Doutores possibilitam que seus alunos, geralmente mestrandos, dêem aulas, corrijam provas, façam palestras por eles, de forma que o olhar vigilante do mentor não permite que os pupilos vacilem em demasia. Resumindo, em muitas, senão todas, as profissões existe uma hierarquia funcional e técnica, que não só organiza como também direciona o trabalho, as cobranças, estratégias, etc. Contudo, em Design isto é meio distorcido, distante e até raro!
Hierarquia sempre haverá, sempre um manda e outro obedece. Todavia, como estipular o que um técnico em design pode ou não fazer? Como tolher da mente de um estudante de Design que aquele “desenho” que representa uma Organização comercial e estampa todos os seus materiais publicitários e funcionais, simples muitas vezes, não pode ser feito por ele e um grupo de amigos que têm talento? De que maneira, em uma situação multiprofissional (com a presença de médicos, engenheiros, arquitetos, etc), o designer poderá definir seu escopo de atuação? Como ele poderá alegar propriedade de conhecimentos frutos do seu ramo de atuação e dos seus anos de formação seja graduação ou pós?
Em verdade, verdade vos digo caros colegas: atuar como decoradores de produtos, “prostituir-se profissionalmente”, atuar ainda como estudantes no mundo comercial, ter diversos profissionais e amadores dizendo que fazem o que nós fazemos, são práticas, senão chagas, da nossa vida profissional. Dizer que não existem ou que devem acabar é tão utópico quanto a igualdade de classes difundida outrora pelo Socialismo falido e vermelho. São vantajosas, assim como as duas Grandes Guerras Mundiais nos são hoje. Essas práticas distorcidas que machucam e ao mesmo tempo expandem a classe dos designers caracterizam um momento de nossa tão recente história profissional, ainda mais se tratando da nossa aniversariante Belém do Pará.

Entretanto, diferentemente de muitos companheiros de profissão que depositam na qualidade, de produtos e serviços, a prova cabal para que clientes e sociedade reconheçam nosso valor, eu, mais uma vez, proponho a prática de metodologias coerentes com a nossa realidade e que funcionem como deslocadores de mentalidades (tanto de colegas quanto dos clientes) rumo à evolução profissional de nossa classe; práticas como a aplicação séria e eficaz de um Briefing, estipulação de um piso salarial para profissionais e serviços em Design, participação efetiva, por meio de representantes, em decisões políticas, por exemplo, são os passos que nós designers paraenses deveremos dar neste caminho rumo ao reconhecimento profissional, à organização e, como não poderia deixar de ser, à REGULAMENTAÇÃO da profissão.
Portanto, as práticas, distorcidas e necessárias, hão de continuar e acontecer, pois elas serão a superfície base para erguermos discussões e decisões sólidas quanto ao papel do designer paraense nesta sociedade marcada por violência e altíssimos preços imobiliários. Por enquanto, aqui, é “um” que está falando, mas, lá na frente, esse “um” deverá ser a voz de milhares que respondem coletivamente. Até a próxima em que veremos porque designers não são taxistas. Tchau.

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