Olá a todos!
Seguindo ainda com a temática Fórum Social Mundial, vou mostrar e comentar outro trecho da reportagem de O Liberal de Domingo, dia 25/01/08, caderno Atualidades, pag. 17.
“Alberto Pessoa de Lima, contador e supervisor de vendas de uma multinacional, assegura que o Fórum não vai mudar em nada a cidade. ‘O único benefício é que Belém vai aparecer um pouco mais’ [...] ‘Vamos mostrar uma Belém em uma semana totalmente diferente das outras. Acaba sendo um falso moralismo, porque depois que acaba o evento, tudo volta ao normal. Os policiais somem, os assaltos voltam, aumenta o desemprego.’
Apesar de achar importante existir um espaço para a exposição de idéias, Alberto afirma que a resolução dos problemas que serão discutidos não dependem do Fórum. 'Os problemas estão aí para todos verem. Não precisamos de gente em um Fórum para discutir problema, e sim de gente resolvendo os problemas'[...]
'As pessoas que querem proibir os desmatamentos são as mesmas que já 'desmataram' suas terras, se desenvolveram e agora querem dar uma de 'bonzinhos'. Os Estados Unidos querem proteger a Amazônia e dizem que ela é do mundo, mas não dividem o petróleo nem o poderio militar. Assim como os japoneses, que não dividem o conhecimento científico', censura.
Juliana Alves, executiva de vendas de uma agência de turismo em Belém, também não encara o Fórum Social Mundial de forma muito positiva. Desde que ficou sabendo do evento, ela começou a pesquisar os temas discutidos nas edições anteriores, mas decidiu não participar.'Acho que não é valido se reunir para não resolver nada. Criticar é muito fácil, diferentemente, de contribuir na prática com a mudança. O Fórum tem uma visão muito romântica', opina."
Quero apontar dois pontos de vista quanto às declarações acima: o primeiro, refere-se à esperteza e por que não dizer metodologia de ação dos nossos amigos gringos. Os socialistas presentes em Belém, já cuspiram, espreguejaram e até já queimaram a bandeira do EUA e certamente não vêm com bons olhos esta nação, mesmo depois da posse do cara-de-gente-fina Obama. Agora, seja com o nome de Greenpeace, que se diz canadense (e que nós sabemos que qualquer empresa mundial hoje possui capital e interesses transnacionais, e que não seria difícil ter algum dinheirinho americano aí pelo meio), seja por WWF e outras ONG's que não são de todo o mal, exceto quando interferem nos assuntos que dizem respeito ao desenvolvimento da nossa paupérrima região, notamos que mesmo com as inúmeras mazelas sociais e ambentais vividas no Nordeste e no Centro-Oeste do país o número de ONG's presentes nessas áreas é um pouco maior que a quantidade de dedos que temos na mão, enquanto que aqui, na zona verdinha (mato e árvores), amarelinha (ouro), cinzinha (inúmeros metais) e outras cores que reprensentem nossa biodiversidade estratégica para o desenvolvimento de cosméticos, remédios, novos materiais,etc, ultrapassam e muito a quantidade de dedos que temos no corpo todo!
É um discurso nacionalista sim! Não se assustem com isso. Queremos e muito nos relacionar, até mesmo o gringos que quiserem sentir o "calor"do nosso povo (em especial a nossa "pova") serão muito bem recebidos, todavia, não podemos nem seremos mais ameríndios estupefatos com espelhos e outros objetos, transcritos hoje em atitudes pseudo-amistosas e anti-democráticas, como por exemplo o travamento do desenvolvimento de culturas como a dos índios e dos moradores da floresta, que não deixarão de ser o que são se souberem navegar na internet, publicarem em seus blogs suas aflições e opiniões, frequentarem lojas de departamentos que estejam oferencendo aquele sapato que cobina certinho com aquela bermuda que eles já usam, e por aí vai. Cultura não é sinônimo de prisão.
Renegar o capitalismo, discordando um pouco do entrevistado, não é mais, pelo menos creio que não exista mais nenhum apagado ou alienado que pense assim, a luta dos movimentos sociais e socialistas. Nesta própria edição a qual eu retirei o excerto, tem uma reportagem sobre Davos e sua luta para freiar a ganância do capitalismo financeiro que é sem dúvida a causadora dessa crise que vivemos, o que mostra que tanto vermelhos, quanto azuis, já perceberam que "nem tanto ao mar nem tanto à terra, e sim pela praia que é bem melhor", como dizia um velho ditado.
Eu costumo brincar que, assim como muitas crianças que nascem em condições precárias ou em famílias detentoras de valores exclusivamente materiais, o Design é um filho do capitalismo. Pois, a própria Indústria, que seria mais como uma irmã mais velha, repassou as primeiras lições e ensinou como se portar nesse mundo-cão. Contudo, o Capitalismo, foi quem motivou e impulsionou a prática do Design, mostrando, nos primórdios e ainda hoje, mesmo já havendo outros objetivos, como o ele era um ingrediente essencial para a obtenção cada vez maior do Lucro. Seria realmente uma contradição renegarmos nossa origem. Ué, Seria?
Claro que não! Não precisamos seguir as carreiras de nossos pais, muito menos suas condutas e crenças, caso essas sejam questionáveis, conforme nosso aprimoramento intelectual e moral for se desenvolvendo. Aí se encaixa meu segundo ponto de vista. Discutir, Planejar, Fazer barulho, Manifestar-se são atitudes iniciais essenciais para um processo de mudança que só ocorre com a AÇÃO. Esta, por sua vez, para nós designers, traduz-se pela própria discussão quanto aos valores que estamos interessados difundir, defender e implementar com nossos projetos e posturas, perante a sociedade, o mercado e o mundo; tais discussões não podem, no entanto, se perderem no vento, ou em papéis soltos por aí. Devem compor artigos científicos, de periódicos como jornais e revistas, ser trabalhados em sala de aula na formação de cabeças pensantes, críticas e inspiradas.
É bem verdade que a AÇÃO, como a própria etimologia da palavra sugere, é representada, lógicamente, na prática da profissão, no desenvolvimento de projetos, em que possamos aplicar conceitos sustentáveis, buscar atingir a esfera social beneficiando não só materialmente uma comunidade, mas conceitualmente, repassando idéias, conhecimento e experiências.
Mesmo deslocado quanto ao Fórum Social Mundial, me sinto feliz em ver que eventos como esse chegam a nossa cidade e que nós, designers pensantes, podemos refletir e incidir em nossas esferas de atuação, escola, trabalho, família, etc, implementando novas formas de se construir esse mundo que possui um tijolinho nosso, mesmo que muitas vezes nem percebamos a nossa mão com um pouquinho de cimento, proveniente desta obra diária, isto é, Fazer o Design que você acredita e que o mundo credite, é somente assim que poderemos chegar de noite em nossos lares e encostar a cabeça no travesseiro prontos para relaxar, crentes de que cumprimos nossa missão.
Até a próxima. Tchau.